Páginas

sábado, 19 de novembro de 2011

O PARQUE - CAPÍTULO 2


Amigos, quem leu a primeira parte, gostou muito e está interessado no que vai acontecer agora!
Bom, segue a segunda parte:
O PARQUE - CAPÍTULO 2

Jubileu, ladrão da região que tinha este nome, por passar mais tempo na cadeia, do que fora dela.
Pézinho, começou roubando galinhas e acabou assassinando o dono da farmácia da cidade.
Traíra, Catapora, e outros nomes que o Sr. Antonio ouvia, também faziam parte da história daquela prisão.
- É, já fomos lá pra "baixo" e agora estamos aqui esperando nossa vez.
- Explica melhor Jubileu, o hôme tá tontinho...
- É o seguinte Seu Tonho, a gente tá aqui por que já pagou lá embaixo por tudo que fizemos, mas ainda não é hora de subir, então a gente fica jogando bola prá matar o tempo, entendeu?
- Entendi, mas por que eu?
- Por que o quê?
- Por que eu vejo vocês ?
- Sei lá, quem sabe é por que já tá velho e logo vai tá aqui com a gente....Há!Há!
- Você não perde tempo mesmo hein? Deixa o velho em paz! Não é nada disso Seu Tonho...algumas pessoas vêem a gente, principalmente crianças, mas para elas somos apenas seus amiguinhos, disse Pézinho, tentando ser amável.
- E agora o que eu faço? Ninguém vai acreditar em mim!
- É fácil: é só não contar pra ninguém
- É isso mesmo! A gente promete que não faz muito barulho tá legal?
Sr. Antonio, sem saber o que dizer, virou as costas e saiu caminhando pensando em tudo aquilo. Olhou para trás a não viu mais ninguém, mas foi só entrar na guarita que:
- Chuta logo!
- Tava quanto mesmo?
- Vamos recomeçar...
Ficou em silencio ouvindo os risos e as jogadas espetaculares de Jubileu.
- Bom dia Sr. Antônio! Como passou a noite?
- Ah! Bom dia Ribeiro.
- Que foi, assustou-se comigo?
- Pensei que fosse outra pessoa
- Quem?
- Deixa pra lá meu amigo... Tenha um bom dia!
Ribeiro viu que o Sr. Antonio estava abatido, mas achou melhor não falar nada. Sabia que estava chegando seu aniversário de casamento e que nesta época ele ficava assim mesmo.
-"Será que é verdade? Ou talvez eu esteja ficando louco mesmo!"
Sr. Antonio não pregou os olhos a tarde toda, ficou pensado no que lhe disse Jubileu: "A gente já pagou lá embaixo....Estamos esperando pra subir..."
Aquela frase lhe deixou intrigado:
-Será que é assim mesmo? Será que minha Cida subiu direto, ou ficou pagando pelo que fez? Ah! Mas ela nunca fez nada, minha Cida era uma santa...
Na noite seguinte, sem ter conseguido dormir nada durante o dia, Sr. Antonio meio zonzo, só ficou ouvindo seus jogadores noturnos, sem coragem para ir lá fora.
Passou bem o dia seguinte, mas estava decidido a fazer algumas perguntas.
Assim que chegou ao seu plantão, logo após a saída do guarda do dia, colocou-se de prontidão na quadra do meio para esperar os jogadores...
As horas pareciam não passar naquela noite, Sr. Antonio já estava quase desistindo quando começou:
- Hoje eu escolho o time! Vocês só querem ficar juntos! Assim a gente perde sempre!
Era a voz de Pézinho, o mais reclamão da turma.
Nesta hora o Sr. Antonio acendeu as luzes e, não vendo ninguém disse:
- Por favor, quero falar com vocês, tenho algumas dúvidas...
- Apaga a luz seu Tonho, pra nós é melhor no escuro!
Feito isto, Sr. Antonio viu-se rodeado de pessoas esperando o que ele queria saber.
- Fala seu Tonho ! Disse Jubileu - O que é?
- Bem, vocês disseram que ficaram "lá embaixo" e estão esperando para subir... Todos vão lá pra baixo?
- Não seu Tonho, tem gente que fica por aqui mesmo. São pessoas que não cometeram nada de grave, mas precisam ficar um tempo até se adaptarem à "nova vida".
- Quer dizer que minha Cida não desceu?
- Pode ser!
- Vocês sabem dela?
- Não Sr. Tonho, na verdade, não podemos sair daqui deste parque, pois já pagamos e aprendemos que o que fizemos é errado, mas só sairemos daqui quando for hora de subir, aí sim iremos a outros lugares...
- Visitar nossas famílias ! Disse Catapora, com ar de saudades muito grande.
- É Catapora, pra você até que tá fácil, pois seu pessoal é daqui mesmo, mas a gente vai ter que procurar por aí!
- Tem razão Pézinho, mas todos nós vamos achar!
- Onde mora sua família? Catapora? Perguntou Sr. Antonio
- Só sei que é numa casa perto da estação do trem...minha mulher já se foi, mas meu filho ainda mora lá e me parece que tenho até uma neta...
No dia seguinte o Sr. Antonio tinha uma missão: procurar a família de Catapora.
- Bom dia! A Senhora conhece a casa do Catapora?
- Catapora? Nunca ouvi falar...moro aqui há quinze anos, e não conheço ninguém com este nome.
- E agora, como faço?
- Pergunte pra dona Júlia, ela mora por aqui acho que há mais de quarenta anos....Olha ela lá...saindo da quitanda do seu Manoel.
- Dona Júlia, bom dia!
- Quem é o Senhor?
- Eu me chamo Antonio e estou procurando a casa onde morava o Catapora.
- Aquele safado! Roubava até a própria mulher! Quando ele foi preso, todo mundo aqui ficou aliviado...podíamos de novo ficar na rua sem medo de sermos assaltados...Depois que a mulher dele morreu, o filho voltou, casou, teve filhos e depois foi embora, quem mora lá é a filha mais nova dele, Lourdinha, moça direita...costureira de mão cheia...
Como dona Júlia não parava de falar, Sr. Antonio interveio:
- Tá bom dona Júlia, obrigado pelas informações, mas onde é mesmo?
- É lá no fim da rua, a ultima casa do lado direito...o que o Senhor Quer com ela?
- Eu? Quero fazer um terno!
No final da rua, uma casa simples, mas bem arrumada o esperava.
- Bom dia! É aqui que mora a Lourdinha?
- Lourdinha sou eu, posso ajudá-lo?
- Quero fazer um terno!
- Entre por favor.
- Disseram-me que você faz os melhores ternos da região é verdade?
- Não posso negar, ninguém reclama de meus cortes.
- Como o Senhor se chama?
- Antonio
- E como me achou aqui!
- Eu conhecia seu avô...
Neste momento a tesoura de Lourdinha caiu no chão
- Meu avô, mas como?
- Eu o conheci na cadeia
- O Senhor Era bandido?
- Não minha filha! Eu trabalhava na prisão e ele sempre falava de seu filho, e que ele seria um garoto honesto e trabalhador.
- E ele foi mesmo! Hoje está morando com minha mãe no litoral. Eu fiquei aqui, gosto desta cidade. Olha esta foto, nela estamos todos nós, eu, meu pai, minha mãe e meus dois irmãos que moram perto deles agora!
- Posso pegar esta foto emprestada!
- Pra que?
- Por favor, quando vier experimentar o terno eu trago de volta. Por favor!
- Está bem, acho que posso confiar no senhor.
Depois de tirar todas as medidas, o Sr. Antonio foi embora, levando consigo um presente para Catapora.
O terno lhe custaria um pouco caro, mas ele também sabia que um dia precisaria dele.
Naquela noite, Sr. Antonio estava radiante, pois iria ajudar alguém.
- Catapora! Venha aqui ! Preciso falar com você!
- Peraí, me deixa cobrar este pênalti!
- GOOOLLLLLLL!
- Valeu Catapora, vai lá...
- Olha, hoje eu fui atrás da sua família...
- Você?...Fez isto por mim? Mas nem me conhece?
- Não precisamos conhecer as pessoas direito, para poder ajudá-las.
- Está bem....Então me conte tudo!
Nesta hora, todos vieram ao redor do Sr. Antonio, que contou em detalhes, como foi a vida de seu filho e como eram seus netos...
Todos ouviram com atenção e não deixaram de se emocionar quando o Sr. Antonio mostrou a foto de todos para Catapora.
- Só não morro de emoção agora, por que já estou morto mesmo!
Ninguém conseguiu conter as gargalhadas e também ninguém viu que o Sr. Antonio, estava profundamente emocionado por ajudar Catapora. Pensou em ajudar os outros também, mas não sabia como.
O tempo foi passando e o Sr. Antonio aos pouco conseguiu achar a maioria dos parentes de seus amigos, fosse por carta, por telefone, etc., mas todos tinham notícias de seus entes.
Numa certa noite, Sr. Antonio não ouviu o jogo como de costume. Foi até a quadra procurar a turma. Foram chegando um a um, numa mistura de alegria e de tristeza.
- O Catapora subiu!
- Como?
- A hora dele chegou! Disseram que ele agora estava preparado. Falou Jubileu.
- É, disse Pézinho. - Ele foi visitar a neta e subiu numa luz azul...
- Ficamos sem nosso atacante...Traíra você agora é titular!!!!
- Beleza!
Sr. Antonio naquela noite emocionou-se muito, indo para sua casa pensando em seus amigos noturnos vendo que eles sim eram sinceros e honestos com ele.
- Surpresa!
- Oi Vô!!
- Alzira, Pedro, Crianças, que surpresa!
- Papai! Que saudades! Como você está bem!
- É minha filha, estou melhor do que nunca!
- Viemos ficar poucos dias Sr. Antonio, consegui umas férias e vamos passear um pouco, quer vir conosco?
- Obrigado Pedro, mas o dever me chama!
- Papai, tire uns dias...você só trabalha!
- Eu gosto minha filha, é minha vida...
- Está bem, agora vamos por a conversa em dia!
Os dias se passaram e o Sr. Antonio, muito feliz com a visita de sua filha, esqueceu-se até da dorzinha que estava sentindo no peito há alguns dias.
Quando sua filha partiu, sentiu novamente o vazio em seu peito, que só não era maior por causa da companhia de seus amigos noturnos.
- Que foi seu Tonho? Tá com uma cara triste hoje!
- Nada não Jubileu, é só saudades de minha Cida!
Jubileu ia falar algo, mas Pézinho fez sinal para que ele ficasse quieto.
- Isso passa seu Tonho, vamo lá, quem é o juiz hoje?
- É o seu Tonho, gritou o Traíra!
Todos riram muito.
- Ele não pode Traíra, pára com isso!
- Tá bom Pézinho, sou eu de novo!

Nenhum comentário:

Postar um comentário