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sábado, 19 de novembro de 2011

A ÁRVORE DA ETERNIDADE - PRIMEIRA PARTE


Amigos, lembro-me de ter lido uma estória com o mesmo final que coloco neste conto. Foi em uma revista Kripta do Terror, se não me engano. Leitura obrigatória para garotos dos anos 70. Portanto não é um final inédito, porém como a imagem da última cena veio à minha cabeça há alguns anos, resolvi escrever este pequeno suspense, usando a imaginção para descrever todo o decorrer da narrativa. Espero que gostem.

A ÁRVORE DA ETERNIDADE

Eu sempre soube que seria imortal. Verdade! Sou imortal!
Desde criança, quando ouvia a mesma estória, repetida várias vezes pelo velho Joca.
Ele dizia ser o guardião da árvore. A árvore da Vida. Segundo o velho Joca, quem a cortasse ganharia a imortalidade. Sua casa, ou melhor casebre, ficava na entrada de um grande matagal, que ele chamava de "porta da vida". Dizia: "Quem cortar a árvore certa, ganhará a imortalidade, mas sofrerá muito com isso e, quem cortar a árvore errada, morrerá instantâneamente!". Todos riam e diziam que o velho Joca bebia demais, mas eu sempre acreditei.
Dizia pra mim mesmo: "Ivan, você vai viver pra sempre! Você precisa saber qual a árvore que o velho está falando"
Eu era pequeno e não tinha como fazer o velho me contar a verdade, vivia perguntado, e a resposta sempre era:
- Ivan, não pense nisso, você tem muito que aprender, vá crescer e se divertir garoto!
Mas eu não pensava em outra coisa. Na escola não queria saber de estudar.
- Ivan, você não fez a lição novamente ?
Sempre reclamava Dona Veridiana.
- Não professora, mas não faz mal, vou viver muito pra aprender.
- Esse garoto não toma jeito mesmo!
Cresci, fui para a cidade grande, mas sempre me lembrava no velho Joca e de sua "Porta da Vida".
Tentei algumas vezes esquecer, pensando ser tudo invenção de um velho bêbado, mas não adiantava, precisava voltar.
Voltei.
A primeira coisa que fiz descendo na rodoviária foi saber do velho.
Ainda estava vivo! Para minha sorte!
Andei muito, mas cheguei na Porta da Vida.
Lá estava ele, acho até que na mesma cadeira fumando um charuto fedorento e tomando uma pinguinha amarela.
- Joca, como vai?
- Quem é você garoto?
- Ivan, lembra?
- Ivan? Sim claro! O garoto que queria ser imortal!
- Queria não, eu quero! Me diga, qual árvore devo cortar?
- Você não iria querer saber, vai sofrer muito.
- Claro que não! Quem é imortal sofre com o quê?
- Deixa pra lá garoto, vai pra casa!
Ele não se lembrava, mas eu não tinha mais casa lá, minha família havia toda se mudado para a cidade grande. Fui para uma pensão pensando não ter tempo a perder com aquele velho idiota.
Acordei cedo e comecei a pensar em algo.
- Não tem jeito, hoje descubro de qualquer maneira.
Andei pela cidade o dia inteiro pensando o que faria depois que me tornasse imortal. Conversei com algumas pessoas a respeito do Velho Joca e soube que ele não tinha mais família há muitos anos e vivia da caridade de todos da cidade.
- Antigamente as crianças iam até lá para ouvir suas estórias. Hoje ele fica sozinho o dia inteiro, coitado!
Comentou a dona da pensão.
- E a estória da Árvore Imortal?
- Ah! Ninguém acredita mais nisso filho! Se fosse verdade o Velho Joca já teria cortado a tal árvore não acha?
Eu nunca havia pensado nisso! Por que o Joca guardava a árvore e não a cortava? Preferia morrer velho o solitário a ter uma vida cheia de aventuras, sabendo que nunca morreria?
Ao entardecer peguei o caminho de sua casa.
- Salve Joca! Como vai
- Ainda não foi embora... Aqui não tem nada para você garoto.
- Pare com isso Joca, me diga, por que nunca cortou a árvore?
- E sofrer a vida inteira? Nunca, prefiro morrer.
- Entao me diga Velho, qual é a árvore certa? Eu corro o risco.
- Esquece garoto!
Aquilo foi me deixando nervoso, precisava saber seu segredo a qualquer custo.
- Escute velho, se não me falar, vai morrer hoje mesmo!
- Voce não sabe o que está falando, já disse, vá embora!
Neste momento, fiquei fora de mim, anos pensando naquilo, precisava cortar aquela árvore e seria hoje. Empurrei o velho para fora de sua cadeira que se quebrou com o impacto.
- Diga-me Velho e farei uma cadeira nova com a lenha da Árvore da Vida!!
- Não...
Olhando para dentro da Porta da Vida, via, Jacarandás, Pinheiros, uma Jatobá, Embuias, Jequitibás, até Peróba tinha naquela mata, mas qual era a certa
- Fale velho, estou ficando nervoso! Dizia eu, pisando quase no seu pescoço e fazendo força pra que falasse.
- Não tenho todo tempo do mundo! Fale ! Fale!
- Árvore da Vida! Árvore da Vida! Árvore da Vida!
E, repetindo estas palavras o velho morreu, acho que de enfarte, sei lá. Velho idiota, não me disse o segredo e já foi tarde!
- Árvore da vida! Tá... e daí

4 comentários:

  1. às 24 outubro 2011 em 22:35 - lioh
    Bacana o post, apaixonado por árvores me encontrei aqui

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  2. às 25 outubro 2011 em 12:06 - escritornashorasvagas
    Obrigado amigo! Veja também a CRÔNICA DE UM AMOR ETERNO. vai se surpreender. abraços!

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  3. às 27 outubro 2011 em 02:43 - Wania
    Muito boa noite! Como já disse esta semana você realmente é um fantástico escritor. Parabéns.

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  4. às 27 outubro 2011 em 12:10 - escritornashorasvagas
    Obrigado Waninha! por isso que você é a dona do meu coração!! bjs.

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