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segunda-feira, 28 de novembro de 2011

À LUZ DO CANDEEIRO


Em uma de minhas recentes viagens, tive o prazer de conhecer um grupo musical chamado RAÍZES CABOCLAS. Assisti a um Show ao ar livre em um projeto da Prefeitura de Manaus chamado Tacacá na Bossa. Me encantei com as músicas, comprei o CD e agora transcrevo uma das músicas mais bonitas, pelo menos na minha opinião! boa leitura!


À LUZ DO CANDEEIRO
Celdo Braga / Eliberto Barroncas
Interpretação:
RAÍZES CABOCLAS 


Cantar à meia luz

É uma prece

A voz assim parece

Véu nos versos da canção



Cantar à meia luz

É muito mais

É como olhar do cais

E ver além da amplidão



Cantar à meia luz

Eleva a alma

Pluma leve calma

Vôo sem fim do cantador



Cantar à meia luz

De um candeeiro

Cada canto aqui deste terreiro

É um altar de amor

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

O MOINHO - EPÍLOGO


Para todos que acompanharam este conto de romance, com uns tapinhas de vampirismo, segue agora o epílogo. Espero que gostem. Boa leitura!


O MOINHO - EPÍLOGO


Ao anoitecer, a porta se abriu. Allan saiu ansioso esperando ver Pietra imediatamente. Mas ela não estava lá. Triste, porem conformado subiu ao telhado do velho moinho, não sabia bem para que, se para lamentar ou para ficar contente com o acontecido.

Sentou-se bem na beirada olhando o horizonte e pensando como seria se Pietra tivesse decidido ficar.



- Pensando em que Allan?



- Está aqui? Decidiu ficar?



Disse Allan, pela primeira vez esboçando um sorriso que estava guardado há 98 anos.



- imagine se não ficaria. Meu lugar é aqui ao seu lado. Estou pronta!



Lembrando de como sua Ruth havia sido carinhosa consigo, Allan repetiu os movimentos de sua amada, chegando-se bem lentamente próximo à Pietra e com um beijo carinhoso, deixou que suas presas penetrassem no pescoço da menina que havia se transformado em mulher.



Vinte dias de passaram até que Pietra ficasse pronta para acompanhar Allan em seus vôos noturnos. Neste período, Allan a ensinou tudo o que sabia sobre sua nova vida, jantares breves, distinção de pensamentos, etc. Pietra nunca havia sido tão feliz. Sabia que teria a eternidade ao lado de seu amado e que finalmente encontrara seu lugar.



- Venha querida, vamos passear.



- Vamos onde amor?



- Atrás de pensamentos puros...





FIM



sábado, 19 de novembro de 2011

O MOINHO - CAPÍTULO 8


Nossa estória chega à sua reta final. Neste penúltimo capítulo, decisões terão que ser tomadas. Decisões que mudarão uma vida inteira...Boa leitura!

O MOINHO - CAPÍTULO 8

Pietra estava arrumando suas malas. Retornaria no dia seguinte. Mas para onde? Morava em Milão com uma tia que sempre dizia não gostar de sua companhia. Seu pai morrera durante a guerra, sua mãe havia fugido com um marinheiro inglês e sua tia, irmã de seu pai a culpava diariamente pela morte de seu irmão nos campos de batalha. Acolheu a menina para que ela não fosse para um orfanato, mas decididamente Pietra não sabia o que teria sido melhor em sua vida.

Quando conheceu Tony, achou que tudo mudaria. Via-se em sua casa, cuidando de seus filhos e esperando o marido com o jantar quentinho. Mas Tony também a tinha decepcionado.

- Milão, Lion, não sei onde é pior.

Estava sem dinheiro para a passagem de avião e teria que enfrentar uma maratona de trens e ônibus até chegar ao seu destino.

Decidiu dar uma volta nos arredores do hotel, a noite estava diferentemente bonita. Passeou muito, nem percebeu que havia ido tão longe. Ficou até com um pouco de medo pela longa volta.
O que não sabia é que não precisava ter medo algum. Allan estava a seu lado.

- Ah! Menina, faça isso, vá embora!

A tristeza de Pietra era aparente e até o pessoal do hotel, acostumado com a italianinha risonha estava triste com sua partida.

Allan não pôde deixar de notar que Pietra precisava muito de alguém que a protegesse. Percebeu que sua vida seria infeliz em Milão.

- Pela primeira vez, voltou triste ao moinho.

No dia seguinte, Pietra levantou cedo, tomou se último café no hotel, despediu-se de seus amigos e partiu para a estação de trem. O caminho do táxi passava pelo velho moinho. Pietra não tirou os olhos do local até que ele sumisse no horizonte. Sabia de alguma maneira que seu salvador estava lá, mas era tarde.

Havia se enganado quanto ao horário de partida do trem. Tinha comprado passagem para as 10h00min da noite e pensou ser 10h00min da manhã. Sem dinheiro para fazer muita coisa, guardou sua bagagem na sala dos funcionários e foi passear pelas imediações da estação.

Andou muito e voltando à estação acabou pegando no sono, sentada em uma das cadeiras da sala de espera. Ao anoitecer, não percebeu quando um vulto sentou ao seu lado para admirá-la. Acordou assustada, sentindo uma entranha sensação da presença de alguém, mas estava sozinha. Allan não queria ser visto.

- Tem alguém aqui, tenho certeza!

Levantou-se, foi ao banheiro sentindo que estava sendo observada.

O tempo passava, a sensação aumentava e Pietra tinha certeza que era seu salvador que estava por lá. Foi até os fundos da estação e gritou:

- Onde está você? Por que não aparece? Por favor...

Saindo de trás de uma grande coluna, Allan surgiu. Todo de negro, com os olhos azuis inesquecíveis para Pietra, brilhando como nunca.

A primeira sensação de Pietra foi o medo. Veio à cabeça que ela estava num local isolado da estação, sozinha com o homem havia matado outro homem há alguns dias.

E se ele veio até ela para calá-la? O medo aumentou!

- Calma menina, não sou tão mal assim. Já te salvei uma vez e se
Quisesse calá-la, teria feito isto naquela noite lembra-se?

- Como sabe que penso isto?

- Apenas sei.

- Quem é você?

- Não sou o anjo que você deseja, mas também não sou o demônio que te assusta. Sou apenas um amigo.

- Amigo?

- Sim, um amigo que não quer lhe fazer mal e que veio se despedir.

- Você vai embora?

- Não, você é que vai.

- É...

Pietra nunca havia se sentido tão bem como naquele momento. Sabia que não queria ir mais embora. Sabia que queria ficar. Havia encontrado seu Salvador.

- Você mora no moinho?

- Sim.

- Mas, eu fui até lá e não te encontrei.

- A luz do dia não me faz muito bem.

- Eu sabia que deveria ter voltado à noite. Qual seu nome?

- Allan, muito prazer Pietra.

- Como sabe meu nome?

- Apenas sei.

- Allan, quer mesmo que eu vá embora?

- Não tenho certeza.

- Poderei ficar para nos conhecermos melhor.

- Não! Vá embora. Adeus!

Allan, assim como apareceu, sumiu, deixando Pietra confusa, mas feliz.

As 10h00min da noite, o trem partiu para Nice, levando a bordo todos os seus passageiros, menos Pietra que ficou só na estação com sua mala e seus sonhos.

- Vamos fechar menina, este era o último trem da noite. Está esperando alguém?

- Sim. Mas vou ao encontro dele.

Allan sabia que Pietra não havia entrado no trem, mas ficou sem  saber o que fazer. Viu a menina caminhando pelas ruas de Lion, e viu também que seus passos a conduziam ao velho moinho.

Pensou muito em qual seria sua reação quando chegasse este dia. Sabia que Ruth havia dado sua vida por ele, devia muito a ela e sempre sentia sua falta. Mas lá estava, caminhando pela escuridão, uma menina que se parecia muito com ele quando chegou à Galati há 98 anos pensando em ser bem sucedido e onde encontrou seu amor.

Desceu até a próxima esquina e deixou-se ver por Pietra que neste momento já estava exausta por carregar sua mala pelas ruas de Lion.

- Você não desiste, não é Pietra?

- Allan, não sei quem ou o quê é você, só sei que não penso em mais nada depois que te conheci. Quero ficar em Lion, ou em outro qualquer lugar do mundo, desde que tenha sua companhia sempre!

Com um gesto de carinho, Allan foi ao encontro da menina, que agora tremia de emoção, abraçou-a e com muito esforço para retrair seus dentes, beijou-a carinhosamente nos lábios, até que o beijo os uniu em um êxtase nunca antes experimentado por ambos.

Pietra nem percebeu quando Allan, ainda abraçando-a, levantou-se do chão, levando-a pelos céus de Lion até o topo do velho moinho.

Pietra não tinha medo, assustou-se um pouco com a altura, mas sabia que Allan não deixaria que nada da mal lhe acontecesse.

- Minha mala!

- Deixe-a, para onde vamos, não precisará mais dela, terá tudo novo, tudo...

Já no moinho, Allan explicou para Pietra detalhadamente como era sua vida, como conheceu Ruth e como se tornou um vampiro. Pietra ouvia tudo atentamente, não perdendo nenhum detalhe e perguntado muito sobre o que não entendia.

- Menina, como lhe falei, está amanhecendo, e a luz do sol não me faz nada bem. Vou descansar. Obrigado por não ter medo de mim. Obrigado por me deixar contar toda minha vida. Eu precisava falar com alguém. Fique aqui, que você estará protegida e, se quando eu acordar você não estiver mais, eu entenderei. Neste caso, tome este dinheiro para sua passagem de avião para onde quiser.

Pietra ficou calada, não sabia o que falar. Deu um pequeno beijo em Allan e ficou olhando-o enquanto descia para o porão pela porta que ela tanto havia batido dias atrás.

As horas demoraram muito a passar. Pietra não tinha fome, sede, simplesmente ficou ali sentada, olhando para a porta e pensando, pensando.

O MOINHO - CAPÍTULO 7


Conseguirá Pietra reencontrar seu Anjo Salvador? Descubram agora no Capítulo 7 de O MOINHO. Boa leitura

O MOINHO - CAPÍTULO 7

Pietra acordou cedo, decidida a ir de encontro com seu salvador e somente voltar ao hotel após tê-lo encontrado.

- Seja ele anjo ou demônio, vou encontrá-lo!

Tomou rapidamente seu café e partiu para o velho moinho.

- Com a luz do dia é mais tranqüilo.

Para não levantar suspeita, desceu do táxi a alguns quarteirões do local, continuando seu caminho a pé.

Ao avistar o moinho, não conteve o medo de entrar onde quase perdera a vida duas noites atrás. Com certo receio, mas determinada a encontrar seu salvador, Pietra foi caminhando até o local onde Phillipe havia encontrado seu fim. Seu corpo não estava lá, assim como não havia nenhum sinal de luta ou algo que lembrasse aquela noite pavorosa.

Depois de se acostumar com o que via, Pietra tratou de começar sua exploração rapidamente antes que escurecesse. Pôde ver também toda a magnitude do lugar com paredes de quase um metro de largura e pé direito de mais de quinze metros. O velho moinho era todo construído em tijolos aparentes o que aumentava ainda mais a aparência de ruínas que o fazia tão assustador à noite. Os salões eram enormes, separados por colunas de estilo clássico, com arcos que lembravam muito as formas do L´arc de Triunf em Paris. Tudo era grande e vazio, os passos de Pietra ecoavam por todos os lados, fazendo com que ela tirasse sua sandália, ficando descalça para evitar que o barulho atrapalhasse sua investigação. Era quase todo feito em um só piso, tendo apenas uma escada no canto direito de um dos salões que levava ao piso superior que provavelmente era o escritório de trabalho dos administradores do local.

Após mais de uma hora andando por todo o moinho, Pietra já estava ficando desiludida por não encontrar seu salvador. Avistou então uma pequena porta no fundo do último salão que provavelmente levaria a um porão. Forçou-a, mas estava trancada aparentemente pelo lado de dentro, já que não havia ferrolhos por fora. Inocentemente bateu na porta, esperando que alguém a viesse receber, mas depois de muito insistir, viu que sua chamada era em vão.

Como já estava escurecendo, temendo em encontrar outro rapaz com as intenções de Phillipe e não acreditando que seu salvador viesse novamente ao seu encontro, Pietra voltou ao hotel cansada e triste.

Assim que despertou, Allan sentiu o cheiro do perfume de Pietra.

- Parece o mesmo que Ruth usava, mas não me lembro muito bem, afinal já se passaram 98 anos! Por que ela veio até aqui? Pensei que meu alerta a havia assustado!

Naquela noite, Allan segurou-se para não ir ao hotel onde Pietra estava. Sabia que havia algo acontecendo. Prometeu a si mesmo que não faria com ninguém o que Ruth havia feito com ele. Mas havia sim algo acontecendo. Não estava com fome. Saiu somente para pensar, parou em um dos prédios mais altos da cidade e ficou admirando o crescimento em sua volta. Em seu tempo de garoto não havia televisões, aviões, etc. É, o mundo havia mudado muito. Ele gostaria que Ruth estivesse com ele para ver a mudança.

O MOINHO - CAPÍTULO 6


Finalmente Allan e Ruth ficarão juntos por toda a eternidade!!! Ficarão? Confirmem vocês mesmos, lendo o Capítulo 6 de O MOINHO. Boa leitura!

O MOINHO - CAPÍTULO 6

Ruth aproximou-se de Allan, pela primeira vez deixou-o ver seus olhos vermelhos e sua boca sedenta. Allan não se assustou e virando sua cabeça, ofereceu seu pescoço para a mordida final.

Alguns segundos foram o suficiente para que Allan caísse desfalecido nos braços de Ruth que, exibindo sua força, pegou-o no colo e levou-o até o porão.

Lá embaixo, dois caixões estavam esperando seus moradores. Um cor de madeira envelhecida, forrado com seda vermelha, usado por Ruth e outro, negro muito brilhante e bem cuidado, forrado de seda azul marinho, antiga urna de seu protetor e que pertencia agora ao seu amado Allan.

Allan teve muitos sonhos durante o dia. Sua infância pobre em Lion, a morte de seu pai numa indústria de tecidos, a morte de sua mãe, vitimada de tuberculose quando ele tinha apenas quatorze anos, seus dias no internato até conseguir um emprego de entregador na empresa em que ainda trabalhava suas desilusões amorosas e a voz macia de Ruth ao seu ouvido: Eu te amo Allan!

A noite chegou de forma diferente, a primeira reação de Allan ao ver onde esta deitado foi a de repugnância, dois caixões postos lado a lado em um porão úmido e iluminado por velas que pendiam de dois castiçais pendurados no teto, mas Ruth estava lá novamente para acalmá-lo.

- Então é isto que estava por trás da porta da cozinha?

- Sim, por isso ela permanece trancada por dentro.

- Sinto-me tonto... E com fome!

- Ah ah! Quer um pedaço de Javali?

- Não... Estranho, mas não sinto vontade de mastigar e sim de...

- Sim, eu sei. Venha, vamos sair.

Allan se sentia leve, mas ao mesmo tempo mais forte. Sentia que podia tudo, mas não sabia como.

- Lá está nosso sol.

Disse Ruth ao mostrar a lua cheia que insistia em brilhar naquela noite silenciosa.

Allan estava ainda meio tonto, mas com muita fome.

- Ruth, estou com dores no estômago!

- É normal. Esta é a primeira vez. Você vai aprender a controlar sua fome e seus desejos, venha.

Allan ainda sem saber controlar suas forças, foi carregado por Ruth até uma clareira no meio da floresta. Aquele vôo estava diferente. Allan percebeu que Ruth não precisava fazer muita força para levá-lo consigo.

- Ouça!

- O que?

- Preste atenção. Há um coelho atrás daquele arbusto.

Sem que Allan percebesse, Ruth deu um pulo e em segundos estava com o coelho nas mãos em sua frente.

Ruth esticou os braços em direção a Allan que pegou o coelho sem muito saber o que fazer.

- Sinta seus instintos. Mate sua fome!

Allan sentiu o cheiro do sangue do animal e viu que seu corpo estava se transformando. Começou a salivar, sentiu seus dentes aumentarem de volume. Doía um pouco, mas Ruth ia controlando e dizendo o que se passaria em breve.

Seus olhos se avermelharam e Allan pode ver coisas que nunca imaginou que visse um dia. De repente, seu instinto animal se aflorou e Allan abocanhou a veia do animal que segundos depois jazia sem vida em suas mãos.

Ao perceber o que havia feito, Allan assustou-se, mas Ruth estava lá e com muito carinho ofereceu seu pulso para que seu amado bebesse um pouco de seu sangue e assim se acalmasse.

Allan sentiu-se diferente, forte e animado, abraçou Ruth jurando amor eterno.

- Por hoje está bom. Vamos voltar. Venha!

Ainda sem saber como fazer, Allan abraço-se à Ruth que o levou de volta voando desta vez lentamente ao redor do pântano e da floresta.

Dormiram. Allan não sonhou. Na noite seguinte iria entender que não sonharia mais.

Quando acordou, Allan viu que Ruth não estava em sua urna.

- Ruth! Ruth!

Sem ter resposta, saiu rapidamente do porão.

- Ruth! Ruth!

- Estou aqui!

Dizia Ruth, nos pensamentos de Allan.

- Onde?

- Siga-me.

Allan concentrou-se e pôde ver claramente Ruth longe dele, próxima ao vilarejo onde se conheceram.

- Venha Allan! Venha meu amor!

- Como?

- Venha...

Allan foi ao terraço da casa.

- Siga seus instintos...

- Como?

- Venha...

Fechando os olhos, Allan começou a sentir o que estava em sua volta. O som da floresta, seus animais respirando, o pântano com seus insetos e sapos. Seus olhos começaram a se avermelhar, sentia suas forças aumentando. Era o instinto animal fluindo em suas veias. Criou coragem e pulou do terraço e sem saber bem como, estava voando ao encontro de Ruth.

-Venha...

Conseguiu localizar sua amada através de seus pensamentos e em pouco tempo estava em seu lado na entrada da cidade.

- Vamos nos divertir hoje!

Foram à taberna onde Allan viu Ruth pela primeira vez. A taberna estava cheia naquela noite. Durante o dia uma festa de casamento havia animado a cidade e à noite os homens foram se divertir. Ruth e Allan também.

O dono da taberna não havia percebido que Allan tinha entrado com Ruth e ao vê-lo foi ao seu encontro:

- Pensei que tivesse ido embora e desistido da procurar a Ruth!

- Não! Não fui embora e já a encontrei

Allan não percebeu, mas seus olhos vermelhos brilhavam para o dono do bar, que saiu assustado em direção ao balcão.

- Calma meu velho!

Disse Ruth ao seu estranho amigo.

- Ele não vai atrapalhar seu negócio.

- Ruth, temos um acordo, mas você não podia ter feito isto. Sabe o que pode acontecer se saírem matando gente por aqui!

O olhos de Ruth se avermelharam de raiva, mas ela se controlou, pegando Allan pela mão e saindo da taberna rapidamente.

- Tenha calma! O homem está com medo.

- Sim eu sei. Eu o respeito e ele me respeita, mas sei que ele adoraria estar em seu lugar. O que ele sente são ciúmes.

Ficaram lá fora, ao relento. Normalmente Allan estaria com agasalhado, mas sabia que não sentiria frio novamente.

De madrugada, os homens foram saindo um a um da taberna, rumo as suas casas.

- Preste atenção! Sinta os pensamentos!

Allan concentrou-se e após um tempo começou a sentir sensações inexplicáveis, boas e ruins.

- Separe os pensamentos. Descubra de quem são. Hoje teremos um jantar rápido.

- Sinto que não há pessoas más aqui.

- Sinto o mesmo, vamos!

Puseram-se a seguir dois homens que desciam uma ladeira escorregadia.

- Venha.

Ruth saiu novamente na frente de Allan e sem que os dois homens percebessem, pegou o primeiro e sugou-lhe o pescoço de forma rápida e animalesca. Vendo a cena, Allan sentiu seus dentes crescerem, seus olhos se avermelharem e em segundos estava atacando seu fraco oponente. Allan não tinha controle sobre sua fome e sua força e se Ruth não estivesse próxima a ele, o pobre homem estaria morto.

Pegando Allan pelo braço, deixou o homem desacordado enquanto o outro corria pela ladeira abaixo gritando feito louco.

Em pouco tempo estavam novamente na casa. Allan estava extasiado pelo seu feito. Foi preciso que Ruth o controlasse para que ele não aflorasse demais seus instintos animais.

Durante semanas, Ruth e Allan iam à cidade para jantares rápidos. Para evitarem o taberneiro, foram algumas vezes à Braila, cidade próxima e também aos campos para se alimentarem de um bezerro ou ovelha desgarrada. Ruth ensinou tudo o que Allan precisava saber sobre sua nova vida e como ele deveria se portar em lugares públicos. Allan aprendeu rápido e em poucas semanas sabia distinguir pensamentos e atitudes boas e más para não pegar a vítima errada.

Como toda mulher, Ruth se contentava em ficar alguns dias sem se alimentar, mas Allan tinha que saciar sua fome diariamente, o que estava atrapalhando os negócios do taberneiro com a queda do movimento noturno.

Em poucos dias o boato sobre vampiros na pequena cidade chegou a Bucareste, fazendo com que os caçadores fossem fazer uma visita aos arredores.

Certa noite, Ruth e Allan foram à taberna e não perceberam que havia pessoas diferentes.

Com um sinal combinado, o taberneiro mostrou para alguns homens quem era Allan e onde ele estava. Foi o suficiente para que as portas e janelas fossem trancadas e colocadas sobre elas réstias de alho para evitar a fuga do perigoso vampiro.

- Allan!

O taberneiro não havia dito nada sobre a mulher, mas quando ela se virou e viu a armadilha, mostrou-se para os caçadores que sabiam agora estar diante de um casal de vampiros.

- São dois! Não os deixem escapar!

Todos estavam armados de água benta, estacas e cruzes e cercaram os dois vampiros em um canto da estalagem.

Ruth viu que não havia como escapar, olhou para Allan com muita calma e amor, deu-lhe um pequeno beijo.

- Sempre vou te amar Allan.

E correu ao encontro de seus algozes. Lutou muito até cair desfalecida e se desmanchar, virando pó na frente de todos. Allan, só teve tempo, aproveitando a distração de todos, de quebrar uma janela e correr pela sua vida. Todos os caçadores saíram à sua procura, mas já era tarde. Allan já havia se escondido em seu porão.

Dormiu... Não sonhou.

Na noite seguinte, voltou escondido até perto da taberna e ficou esperando. Ouvindo e sentindo pensamentos, mas esta noite os seus próprios pensamentos eram mais altos:

- Vingança! Só quero vingança!

Os caçadores haviam partido. Sabiam que o serviço tinha ficado pela metade, mas sabiam também que o vampiro demoraria a voltar por aquelas bandas. Era o que dizia a lenda.

Quando o último cliente saiu, Allan entrou quase que derrubando a porta. O taberneiro ficou sem ação quando Allan o pegou pelo pescoço, levantando-o até quase o teto.

- Maldito! Por que fez aquilo conosco?

- Eu não falei nada sobre a Ruth, queria que pegassem somente você! Você é quem me atrapalhava, ela não!

Sem hesitar um instante, Allan mordeu o pescoço do velho taberneiro, só parando de sugar quando já não havia mais sangue em seu corpo.
Suas mãos suavam! Nunca havia matado um humano, somente jantares rápidos e animais, mas o êxtase de matar o assassino de sua amada foi maior que qualquer arrependimento.

Depois desta noite, decidiu voltar para Lion, encontrar um refúgio noturno, eliminar todos os assassinos que encontrasse e nunca mais se apaixonar.

Mas, nunca mais é muito tempo...

O MOINHO - CAPÍTULO 5


Allan finalmente conhecerá Ruth de fato! Será que após conhecê-la, ele irá embora? Vejam agora no Capítulo 5. Boa leitura!

O MOINHO - CAPÍTULO 5

Allan sentou-se e sem cerimônias começou a saborear o delicioso coelho preparado por Ruth. Por algum tempo o silencio imperou no grande quarto que agora estava colorido, inclusive com uma cama preparada com lençóis brancos e limpos. Allan tinha certeza que aquela cama não estava lá antes, mas achou melhor não falar nada. Sabia que era bruxaria, mas nem pensava comentar a respeito.

- Ainda pensa que sou uma bruxa não é? Você devia ter acreditado no dono da taberna. Ele me conhece há muito tempo. Desde que era um garotinho fujão que eu encontrei na floresta no meio da noite. Deste dia em diante ele me admira e respeita e me deixa entrar em sua taberna para me divertir e caçar um pouco.

- Caçar?

- Sim, caçar. Sou uma vampira.

Disse Ruth, tomando um gole da taça, que, se observado direito tinha um líquido grosso e escuro demais para ser vinho.

Allan parou de comer imediatamente e perguntou:

- Se é vampira, que vai fazer comigo? Matar-me agora? Ou vai me guardar para quando tiver fome?

- Se quisesse já o teria matado na primeira noite, mas só caço pessoas ruins, de maus pensamentos e atitudes. O erro foi ter gostado de você. Tão puro de coração e tão bonito...

- Quer dizer que pode ler os pensamentos?

- Não necessariamente. Algumas vezes sim. Outras vezes sinto a aura da pessoa e posso afirmar com certeza se ela é ruim ou não.

- Sabe o que estou pensando agora?

- Que sou uma bruxa?

- Ah! Ah! Não... Penso como uma mulher tão linda pode ser vampira.

- Longa história. Começou mais ou menos como você. Eu me apaixonei pela pessoa errada. Fui até ele e pedi que me transformasse.

- Como assim? Você não nasceu vampira?

- Ninguém nasce vampiro. Não se sabe ao certo quem foi o primeiro, mas através dos séculos, somos transformados por nossos protetores.

- Protetores?

- Sim, vampiros que cansados de ficarem sós, escolhem alguém, não para saciar sua fome, mas para ter companhia.

- E sou seu escolhido?

- Não! Não quero para você o que sou! A eternidade é muito tempo!

- E onde está seu protetor?

- Foi morto pelos caçadores, homens que têm por profissão, nos caçar e matar?

- quer dizer que vocês também morrem?
- Sim, as lendas da estaca, do alho e da cruz são verdadeiras. Mas veja só! Eu ensinando a você como deve me matar!

- Não se preocupe você poupou minha vida, pouparei a sua!

O ambiente ficou cada vez mais calmo. Allan só tinha medo que Ruth lesse seus pensamentos e visse o quanto ela estava apaixonado por ela.

- Sim eu sei! Sinto também algo diferente por você!

- Nossa! Como faço para você parar de ler meus pensamentos?

- Vá embora e não volte mais à Galati.

- Não tenho nada e nem ninguém me esperando em Lion. Não quero voltar. Quero ficar aqui com você Ruth.

Allan disse isto se dirigindo para Ruth, pegando-a nos braços e dando um beijo em seus lábios carnudos e vermelhos como ela não sentia há muitos anos.

Pela primeira vez em todos seus anos de vampirismo, Ruth se sentiu mulher novamente. Allan despertara nela toda a meiguice que havia sumido pelos tempos.  Mas Ruth era uma vampira e seus instintos não tardaram a aparecer assustando Allan que se afastou quando sentiu os dentes caninos afiados de sua amada.

- Allan vá embora! Não há nada que podemos fazer! Não posso deixá-lo aqui para ser meu brinquedinho, eu o amo!

- Eu também a amo Ruth e não quero perdê-la nunca! Por favor, me transforme! Por favor! Preciso de você!

- Você não sabe o que está pedindo. É um caminho sem volta! Você perderá tudo o que é de mais bonito na vida. O brilho do sol, o canto dos pássaros, amigos, tudo!

- nada me importa a não ser ficar ao seu lado!

- Ruth, eu te amo!

Allan não ofereceu resistência quando Ruth se aproximou dando-lhe um leve beijo em seus lábios. Também não fez nada na hora em que ela, carinhosamente lhe mordeu o pescoço misturando o sangue impuro ao seu, iniciando o processo que o tornaria seu amado imortal.

- Durma meu amor! Você ainda terá um dia de sol. Aproveite-o, pois será o último.

Allan acordou cedo, com grande dor no corpo sentido como se sua carne fosse explodir.

Olhou para a janela e mesmo sem forças, caminhou até lá fora para ver o que sabia ser o último dia de sol de sua vida.

Aos poucos foi se acostumando com a dor. Tinha que ser forte para mostrar à sua amada que seu sofrimento estava valendo o que ela havia feito por ele. Saiu do quarto e começou a explorar novamente a casa onde estava. Notou que ela não estava mais em ruínas e não sabia se era imaginação ou se eram visões de sua nova vida.

Caminhou pelo jardim evitando os raios diretos de sol que já lhe incomodavam e viu porque Ruth havia dito com lágrimas nos olhos o que ele perderia sendo vampiro. O dia estava diferente, bonito, os pássaros estavam mais afinados e o sol brilhava de forma tão intensa que Allan tinha certeza de o sentir assim pela sua transformação.

Do mesmo modo que começou, o dia acabou rapidamente, deixando em Allan um gosto de saudades que só sumiu quando Ruth apareceu mais linda do que nunca, deixando o quarto com um brilho radiante.

- Como passou o dia?

- Aproveitei o máximo que pude. Agora estou pronto. Que vai acontecer?

- Ontem eu misturei nossos sangues, hoje você terá a segunda e última dose. Está preparado?

- Sim, claro.

- Preparei para você um jantar de despedida. Sua próxima refeição será como a minha.

- Precisarei matar pessoas?

- Só se for necessário. Você terá o dom de ler os pensamentos e ver as auras das pessoas e assim saberá separar as que merecem morrer e as que podem ser poupadas. Uma única mordida rápida, sem mistura de sangue, não prejudicará qualquer pessoa, que terá no máximo febre por alguns dias. Meu protetor chamava isto de jantar rápido. Várias vezes nos misturávamos às pessoas em multidões e saíamos sem sermos sequer percebidos pelos nossos alvos. Além do mais, podemos também nos alimentar de pequenos animais, como coelhos e veados. Particularmente prefiro o sangue dos humanos.

O jantar estava mesmo maravilhoso: javali com molho especial, pão amanhecido e vinho tinto de uma safra longínqua.

- Estou preparado!

- Que assim seja.

O MOINHO - CAPÍTULO 4


Para onde será que Ruth levou Allan? Descubram agora no Capítulo 4. Boa leitura!

O MOINHO - CAPÍTULO 4


Allan não teve tempo para nada.  Quando viu estava voando abraçado a Ruth.

As luzes da cidade foram ficando cada vez menores, até sumirem no horizonte.

Allan não entendia o que estava acontecendo. Pensou em se beliscar, para ver se não era um delírio de vinho, mas ficou com medo de cair. E com razão, pois estava bem alto, literalmente...

O Vôo durou pouco... Alguns minutos. Ruth ia rápido, como que fugindo e levando o perseguidor junto. Não tardaram a chegar a uma grande casa nos pés de uma colina, próximo a um extenso pântano.

Entrando por uma janela, Ruth deixou Allan no chão de um quarto dizendo:

- Fique aí e depois conversaremos.

- Como?

- Espere por mim.

E sumiu por um corredor escuro.

Allan estava muito tonto para entender o que havia acontecido naquela noite. Aninhou-se em um canto do quarto adormecendo em seguida.

Acordou assustado com o sol, que entrava pela janela, queimando seu rosto. De início não se lembrava como havia chegado até aquele local, mas depois de andar um pouco pelo quarto, a imagem de Ruth pegando-o no colo e pulando da sacada do quarto do hotel veio em à sua mente deixando-o perplexo com a situação.

Tratou de explorar a casa, procurando Ruth por todos os cômodos.

- Ruth! Ruth! Onde você está? Ruth!

Mas Ruth não estava em canto algum.

- Como alguém pode morar num lugar destes? Esta casa está toda em ruínas...

Descendo por uma escada que saía da cozinha, Allan chegou até uma grande porta trancada.

- Ruth! Você está aí? Ruth! Ruth!

Tentou abrir a porta usando toda sua força, mas desistiu logo.

- Não adianta muito pesada... Mas seja o que for que tem lá dentro, Ruth está lá.

Voltou para o quarto e ficou olhando a paisagem pela janela. O pântano, apesar de assustador à noite, era bonito de ser ver durante o dia. Os raios de sol batendo nas árvores e refletindo nas águas davam uma imagem bonita ao local sombrio. Esta visão o fez Allan recordar de sua infância, onde ouvia estórias de bruxas que moravam em pântanos e comiam crianças desavisadas.

É lógico que Allan há muitos anos sabia que aquelas estórias eram feitas para assustar as crianças e deixa-las com medo de se aventurarem pelas matas que circundavam a pequena vila onde moravam no interior da França.

- Será?

Tudo ficava cada vez mais claro! Sua avó tinha razão, Ruth era uma bruxa que usava seus poderes para se tornar bonita aos olhos dos homens e assim poder levá-los até sua casa, mata-los e oferecer seu sangue para algum deus pagão.

O sonho de uma mulher bonita e um amor que durasse para sempre estava se destruindo. Allan tratou de sair correndo da casa, mas não tardou para perceber que estava entre um pântano desconhecido e um penhasco. Já estava escurecendo e Allan sabia que precisava se defender da alguma maneira.

- Não vim até aqui para morrer! Vou lutar sim! Você vai ver sua bruxa!

- Quem é bruxa?

Disse Ruth, se aproximando de Allan em total silencio.

- Para trás! Não se aproxime de mim! Ou serei obrigado a matá-la!

- Eu sabia! Sabia que sua reação seria esta. Não sei por que insisti em ir vê-lo noite passada! Vá embora agora! O melhor caminho é rodear o pântano, você chegará à vila mais próxima em algumas horas.

Ruth terminou sua fala, virou-se e num pulo já estava no balcão do quarto olhando para Allan ainda paralisado, sem ação.

Depois de segundos de hesitação, Allan foi embora pelo caminho indicado tristemente por Ruth. Alguns minutos correndo foram o suficiente para Allan parar totalmente cansado em com fome.

- Deus! Onde estou agora? Tudo escuro! Não vou nunca achar o caminho de volta!

- Continue nesta direção Allan.
- Ruth! Por favor, não faça mal a mim!

- Por que acha que farei mal a você Allan?

- Você é uma bruxa... Não é?

- Não... Não sou... Infelizmente sou coisa pior. Mas não se preocupe, a você não farei nada.

- Não consigo ter medo de você. Quem é você Ruth?

- Vamos voltar para a casa. Lá conversaremos.

Allan sabia que não teria muito a discutir e pôs-se a voltar pela trilha.

- Quer vir comigo?

- Não, vou andando mesmo!

- Como quiser.

Disse Ruth, antes de sumir novamente pela mata densa.

Ao chegar a casa, Allan avistou o quarto iluminado pela lareira e Ruth no balcão o aguardando. Estava linda, mas Allan não queria pensar nisto.

- Deve ser feitiço.

- Ande logo, seu jantar esfriará!

Chegando ao quarto, Allan viu uma mesa posta com um belo coelho assado cheirando a tempero de pimenta, duas taças de vinho e Ruth em pé, próxima da lareira.

- Venha, sente-se, sei que está fraco e com fome.

- Você não vai comer?

- Hoje estou sem fome. Fique à vontade. Eu ficarei aqui para conversarmos. Não tenha medo. Não chegarei perto de você.